code inconnu

Preciso registrar a passagem por esse filme, dirigido por Michael Haneke. O longo voltou à minha memória ao ler fragmentos do livro Certain fragments, do performer e artista visual Tim Etchells, integrante da conhecida companhia Forced Entertainment. É um capítulo do livro que trata de programas performativos para escrita. Infindáveis listas de ações de escrita, bilhetes para serem deixados na carteira de alguém, textos para serem gritados em um microfone, cartas para serem deixadas de baixo de uma porta, etc… Todos são intermediados por uma espécie de relatos diversos de sua vida atravessada por acontecimentos, vistas, conversas, lembranças. De alguma forma, esses procedimentos de escrita se espraiam pela forma viva social da qual nós somos atravessados – uma impessoalidade da escrita é feita, em cut’s fragmentários de um enorme corpo sentido pela multidão, e aí mesmo, forma-se um matagal malhoso de discursos interconectados. A poética de Mallo tem algo disso muito latente sempre – uma narrativa que se tece, ainda que menciamos ser fragmentária, mas cheia de sentido. 

Essa poética da dispersão produtiva e integrada entre corpos em trânsito, cut’s cut’s imagens exploradas fora, risocs e chamadas telefônicas em torno de acontecimentos vivos e íntimos, é algo muito presente em Code inconnu. Assistindo a esse filme, me lembro de todo o impulso escritural voltado ao procedimento da vida-matéria-cidade. Acredito que essa seja uma forma de escrita que me habita, ainda que tenha uma voz narrativa muito intimista sempre latente em mim.