Estreia do Tríptico: Não Ela, Ele e Culpa

Duração de cada peça: 60 minutos | Classificação indicativa: 18 anos
6 a 22 de julho de 2023, quinta a sábado – quintas e sextas às 19h30, sábados às18h
Local: Oficina Cultural Oswald de Andrade (Sala 11)
Endereço: Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro, São Paulo – SP, 01123-001
Quintas: Não Ela – 6, 13 e 20 de julho Sextas: Ele – 7, 14 e 21 de julho Sábados: Culpa – 8, 15 e 22 de julho
Ingressos: ENTRADA GRATUITA – retirada de ingressos 1 hora antes de cada sessão

Link: https://oficinasculturais.org.br/atividade/espetaculo-triptico-nao-ela-ele-e-culpa/

Texto que escrevi para o programa da peça:

Movimento Tríptico

Em um diálogo constante entre mim e Oliver, começamos esboços do que viria a ser o tríptico em 2019. A questão central que movia nossa investigação reportava-se à pergunta: o que é ser um homem? A partir do recorte que correspondia ao nosso próprio relacionamento, entre um homem cisgênero e uma pessoa transmasculina, escavamos até as profundezas tal indagação. Deixamos ecoar toda matéria discursiva que habita nosso imaginário antes de termos o mundo organizado em conceitos e posicionamentos confiáveis.

Assim, em Não ela: o que é bom está sempre sendo destruído, compus uma dramaturgia que não buscou narrar os conflitos e superações de um relacionamento, mas, a partir de uma paisagem textual imersiva, propiciar a experiência de habitar a atmosfera primordial na qual a percepção do outro é formada. A peça é atravessada por uma espécie de instalação textual que reage a esse corpo estranho do outro.

Tanto em Não ela, quanto em Ele, esse outro corresponde a um duplo do imaginário masculino, como um Doppelgänger que frustra, em um primeiro momento, certa ordem perceptiva em relação aos corpos em sociedade.

Se em Não ela a duplicidade entre esses corpos se manifesta no discurso e ponto de vista cisgênero, na segunda peça, Ele, há uma paridade no espelhamento entre um e outro. Sem verbalizarmos praticamente nada, a pergunta central das peças é então respondida a partir de ações pontuais coreografadas pelos dois corpos: jogar jiu-jitsu, fazer a barba, lavar-se, vestir-se, beber cerveja etc.

Culpa, por sua vez, explora a duplicidade ambígua masculino-feminino, ao abarcar a memória afetiva trazida pelos pais de Oliver, tensionada com o real do presente e quando da transição de gênero. Em cena, pai e mãe reagem a esse “corpo estranho”, mas tão familiar, e agora parecem responder: o que é criar uma filha? O que é criar um filho?

De cunho biodramático, o movimento do Tríptico expõe toda uma dimensão da vida construída como simulacro cisgênero. Sob a direção de Oliver, as peças não intentam sobrepor uma “voz trans” (sistematicamente oprimida) sobre uma “voz cis” (hegemônica). Mas fazer falar e ver o que surge da interação e do dissenso entre ambas: expor e desconstruir os mecanismos dados como normais da experiência em sociedade.

Lucas Miyazaki (dramaturgo e performer).

Resenha crítica (Por Amilton de Azevedo) – https://lucasmiyazaki.site/2023/07/10/nao-ela-uma-peca-de-amor/