Assistindo a montagem da instalação de uma performance Chão-Pão, Nuno Ramos. Ouço agora apenas os ruídos como música para escrita. Pão, azulejos (chão) sendo quebrado. Mas não era isso sobre o que gostaria de escrever… Vale dizer que sinto uma sintonia entre as obras em montagem hoje – 101 noites, cam girl (Janaína Leite) e esta performance de agora. Ontem, apareci em uma sala de Zoom dos Pornô Shows, e apareci desnudo – mais do que isso, de pau duro – pela primeira vez publicamente. Disseram que a cena minha e de Liv foi algo bastante instigante, mantendo muitas pessoas naquela sala. Não duramos os 50min de todo o Pornô Show. Muitas pessoas estavam transitando entre as diversas salas. Agora, os dançarinos da performance começam a circundar os espaços entre os azulejos, com os pãos sustentando tudo. Estão em aquecimento ou já compenetrados nos movimentos de suas danças? É um palco de teatro Nô? Tudo simultaneamente. Dramatização. Alguém em desespero correndo enquanto a equipe técnica continua a conversar.
Em breve: ansioso para ver as 101 noites… (O discurso que será tecido no meio disso tuido.)
O que eu queria dizer neste registro de hoje, é o ato de escrever em uma página web sem público. Ou quase sem. É um ato de publicação similar à de um livro em órbita, sem destino certo na linha do tempo da literatura. Quase sem público, porque talvez você pode estar lendo isso aqui agora.
Isso implica uma disjunção entre o elaborado e o pessoal sem nenhuma linguagem artística que hoje facilmente torna-se literário? (Porblemática sempre trazida por Henrique Schlikmann, de que eu considero muito, ainda que suspeite ser uma visão que pode levar uma obra a cair no café com leite, no jornalismo, no fabular socialmente enrijecido (ainda que sim, estou considerando as pessoas que dizem querer sempre serem originais…)).
… aquela pessoa dramatizada (eletrizada ousaria dizer) está agora aos prantos. É, evidentemente, uma mulher trans. Isso não deveria importar. Mas que agonia é essa? Tudo parece sem nome, ação bruta e lágrimas sobre o espaço social. Ruído de vento.
Alguém esmurra a porta diversas vezes e grita em uma língua irreconhecível. Tudo está prestes e ser quebrado.